"Quem tinha tempo para a poesia? Pois ela comprou um carrinho invisível e começou a catar palavrão" Rita Apoena

15.12.15

Abre



Deixa a luz entrar, clarear, iluminar, ensolarar, fazer sombra no sofá, deixar rastros no chão.
Deixa o som entrar, o canto daquele passarinho que fez ninho no poste, a gargalhada dos meninos correndo lá embaixo, o fusca que demora pra partir, a buzina por alguém que espera.
Deixa o cheiro entrar, do florescer daquela arvore na lateral, do almoço sendo feito no vizinho, o perfume das roupas estendidas no varal.
Deixa a brisa entrar, o frescor na pele exposta, vento despenteando os cabelos, dançando com as cortinas, espalhando os papéis, atiçando a chama acessa no fogão...

Abre a janela e sente a vida que pulsa dentro da casa, dentro do peito, dentro da alma.

14.12.15

Pique-esconde



Tenho a impressão que isso é apenas uma brincadeira.
E eu não terei de ficar escondida aqui em baixo por muito tempo.
A qualquer momento Ele vai gritar:
-Batida Salve Todos



9.12.15

Não é uma opção



Desde o inicio eu tinha escolhas, você não foi a segunda opção porque a primeira deu errado, você foi o que quis sem cogitar outras opções. Eu escolheria você, quantas vezes eu tivesse que escolher. E eu sabia que estava refém, desde aquele dia que eu te disse "não se apaixona", porque eu já estava perdida. Você não foi o inevitável que aconteceu! Não! Porque, de fato, poderia nunca ter acontecido, mas nós optamos por fazer acontecer. Você me olhou bem nos olhos e me deu a chance de ter mais do que eu poderia querer. Nós reconhecemos o que queríamos um do outro, e plantamos no peito. Você não foi algo que eu inventei sentir. Não é porque cometi alguns erros que eu não saiba o que é certo, que não saiba que é você que eu quero, que você foi, até hoje, a minha melhor escolha, que você é meu verbo no futuro do presente, minha poesia mais carregada de paz, você é a estrada longa e segura que resolvi percorrer em meio a essa vida cheia de atalhos.



7.12.15

Deixa despertar



Água, depois de 7km de corrida debaixo do sol, fresta, na casa abafada por onde entra o vento, abrigo, seco e seguro no meio da tempestade, farol, para o navegante perdido na imensidão do mar, amanhecer, para o doente na cama do hospital, estrelas, cobrindo o céu depois do nevoeiro, gol, de final do campeonato nos 45 do segundo tempo, chuva, no solo rachado do sertão, vela, acesa de quem espera favor do Eterno, você, esperança que no meu peito apertado...

2.12.15

Nossas limitações



Eu só queria ter sido o teu lar, o lugar seguro para ir em meio ao caos, ter sido o repouso dos teus olhos quando cansados do movimento lá fora, queria ter sido a tua paz, o nome pronunciado quando se busca trégua, queria ter sido teu motivo para seguir adiante, o motivo para não olhar para trás, tua ancora aqui. E eu quis tanto de você, que você tirasse esse vazio, que preenchesse o buraco no meu peito, que me fosse o alento das noites regadas de desespero, os joelhos no chão na hora da prece, quis mais de você do que de mim, mas  nesse tanto querer fui aceitando o que era me dado sem reclamar, como um pecador que recebe benção imerecida, embora quisesse por vezes, mais do que você pudesse me dar, e eu entendo que tenha sido por limitação sua, não por maldade.

Eu quis ter sido tanto, ter tido tanto e acabei por preferir a serenidade de um terraço vazio, e hoje só torço para que o que tem de você em mim não morra, porque eu gosto daquelas flores...