"Quem tinha tempo para a poesia? Pois ela comprou um carrinho invisível e começou a catar palavrão" Rita Apoena

22.12.16

Dualidade



A alma quebrada, ele consertou.
A roupa suja, ele trocou.
O solo infértil, ele floriu.
A ferida aberta, ele sarou.
O peso insuportável, ele levou.
O medo sufocante, ele espantou.

A luz que cegou, foi a que iluminou.
A água que afogou, também limpou.
O frio que doeu, despertou.
O bálsamo que ardeu, também curou.
O fogo que queimou, foi o que aqueceu.
A luta que feriu, fortaleceu.

E o longo caminho me trouxe aqui.
E eu vi a esperança, em meio ao caos.
E eu vi o amor, nascer de novo.
E eu vi, que eu já não era eu.
Uma nova versão de mim.

E tive forças pra continuar,
E vi você me chamando,
Eu vi você.
Foi um descanso pra meus olhos.
E dessa vez, sem medo, eu corri.
E dessa vez, sem medo...

21.12.16

12.12.16

Aprovada




Eu tinha me acostumado a resolverem por mim.
A jogar nas mãos de outra pessoa quando não conseguia.
Mas dessa vez foi diferente, não tinha outras mãos senão as minhas.
Dores de cabeça, gastrites, ansiedade e nervosismo.
Eu e eu mesma.
Depois de desastrosas e longas (me pareceram longas) semanas, lá estava eu concluindo uma etapa que me levava mais perto do fim.
Nesse meio tempo, várias coisas fugiram do controle, e eu tendo de resolver a vários quilômetros de distância, o que às vezes nem de perto se resolve.
Pela primeira vez não chorei, nem caí em desespero.
E depois, mais do que por uma banca de qualificação, fui aprovada por mim mesma.
E depois, tanta coisa valeu a pena .
E depois, tanto de mim se refez.
E depois, só agradeci.
E depois... bom, só Deus sabe.


1.12.16

Aquilo que eu não quero saber





Ontem eu pensei que  meu ouvido fosse estourar.
Ontem minha barriga doeu tanto por causa da gastrite nervosa.
Ontem eu tive gastrite nervosa.
Ontem o sangue subiu de uma vez pra minha cabeça, que eu pensei que fosse jorrar pelos meus ouvidos.
Ontem meus ouvidos ficaram muito quentes, juro por Deus que eu pensei que tava saindo sangue.

Tudo isso por causa de uma mensagem que recebi, de uma amiga no instagram:
"Brisa, me passa teu numero que eu preciso falar com vc"

Aí eu só pensei no pior.
Só pensei que era uma coisa que ela queria me contar e eu não queria saber.
(Porque tem alguns "amigos" que só gostam de contar desgraça)
Pensei que fosse a coisa que eu mais temo no momento.
Mas, nem foi, era uma coisa super boa, um convite para um evento.
Aí eu fiquei tranquila
Minha gastrite parou, meu ouvido não sangrou. E eu fui dormir.


Mas lá no fundo eu sei que essa coisa ruim vai chegar, que essa noticia vai acabar comigo, e que minha gastrite vai atacar. Eu sei que vai acontecer. Mais cedo ou mais tarde eu vou saber.
E quando a onda bater vai me arrastar pro fundo, e eu não sei nadar...

27.11.16

Azia




Aquela sensação sufocante de não sei o que.
Aquela falta de ar, não sei porque.
Aquela agonia na alma,
Aquela azia no coração...

Aquele gesto comum de embolar uma mão na outra para descrever o quão confusa está a situação.
Isso resume tudo.

23.11.16

Para onde vão?



Entrei no carro, dei boa noite. Sorri.
No som, uma mulher cantava.
Era Whitney Houston perguntando para onde vão os corações partidos (Where do broken hearts go)
Fechei os olhos, encostei a cabeça no banco. Ri.

- Todos eu não sei, mas o meu vai pra todo lugar comigo, estamos indo a praia. Respondi.


18.11.16

Reinauguração




Importa é nos sentirmos vivos e alvoroçados mais uma vez, e revestidos de beleza,
A exata beleza que vem dos gestos espontâneos e do profundo instinto de subsistir enquanto as coisas ao redor se derretem e somem como nuvens errantes no universo estável.

Prosseguimos. Reinauguramos.
Abrimos os olhos gulosos a um sol diferente que nos acorda para os descobrimentos. [...]

Esta é a magia do tempo.
Esta é a colheita particular que se exprime no cálido abraço e no beijo comungante,
no acreditar da vida e na doação de vivê-la em perpétua criação.

- Carlos Drummond









13.11.16

Sim, porque sim!



Entre o instante de agora e dois segundos atrás existe um infinito de possibilidades. Entre agora e o momento em que comecei a digitar existe uma pausa de 20 minutos, mas você não percebeu, porque pra você o tempo foi corrido, mas pra quem escreve há uma pausa longa, de pensamentos e possibilidades.
Quando eu disse que sim foi corrido na hora, pareceu impulsivo, mas eu já havia pensado nisso, e em todas as possibilidades depois disso.
Aprendi na terapia.
Aprendi com o Lewis também.
Aprendi com o Stott.
No final das contas eu falei sim.
E bom... Acho que é assim que as coisas começam a dar certo.

7.11.16

perspectiva

É manhã.
Abre os olhos.
Enche o peito.
Fecha os olhos.
Solta o ar...
Pensa:
"Hoje vai ser diferente"

E é!

6.6.16

Sobre Ele



Eu só queria dizer que você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, e que pensar num mundo sem você é a coisa mais triste e sem graça que eu poderia viver.
Queria dizer que hoje eu queria ter preparado um jantar, e decorado a casa bem colorida, ter feito coraçõezinhos de origami para colocar naquelas garrafas vazias que estão embaixo da lavanderia. Queria dizer que hoje, mais do que os outros dias, eu queria te dar um abraço bem apertado sem precisar falar nada, daqueles que traduzem o que a gente sente.
Queria que essas lágrimas de agora não existissem.
Queria que o tempo voltasse, e eu mudaria tanta coisa, por você, por mim...
Eu queria te dizer que eu sinto muito por tudo.
Queria que você soubesse que você é meu céu cheinho de estrelas depois de navegar no meio da tempestade.
E você merece tanta coisa boa, porque você é tanta coisa boa, você tem uma nobreza dentro de si, e carrega um coração tão grande dentro do peito, eu tenho tanto orgulho de você, da pessoa que você é por trás dessa armadura, e eu desejo tanto teu bem, quero tanto te ver bem, te ver em paz.
Queria te dizer que eu já fiz tanta escolha besta nessa vida, das quais me arrependo muito, mas de você eu nunca consigo me arrepender. É olhar pra nós e me ver sorrindo.
Eu nunca vou deixar de amar você, possa ser que um dia esse amor mude, amadureça, vire um carinho e cuidado bobos de quem nutre um sentimento bom pelo outro.
E vai ver que no fundo eu que não quero mesmo deixar de amar você.
Eu queria que você soubesse que antes de você não houve ninguém que me fizesse sentir tudo isso, e eu duvido muito que depois de você haja alguém que possa, você aumentou demais o nível, ficou difícil pra qualquer pessoa superar você.
Eu não sei como vai ser o futuro meu amor, não temos feito planos além de uma semana né? Mas eu prometo que vou tentar viver um dia de cada vez, aproveitar o que 24 horas pode nos oferecer de bom.
Eu poderia ficar falando aqui tanta coisa que tá acumulada no peito, mas meus leitores vão ficar com inveja de mim, então prefiro guardar o que sei de você só pra mim até pra evitar concorrência.

Quero que esse ano seja o melhor da sua vida!
Parabéns!

26.4.16

Sobre estar presa




Mais uma vez eu acordei, e mais uma vez ainda estou presa nesse mesmo corpo. Mesma história, mesmo passado, mesmas memorias, mesmas fotos, mesmos sentimentos. Por mais que eu queira esquecer tanta coisa, tudo isso me persegue todos os dias, sou estuprada toda manhã pelos meus fantasmas e pelo medo de continuar, pelo medo de parar, pelo medo de ir e de ficar. Respiro... vejo aquela imagem no espelho, cabelo, nariz, boca, 8 kg a menos, os ossos da clavícula saltam, parece que alguém sugou toda energia e beleza de uma vez só, marcas na alma, olheiras e pouco riso já são o suficiente para deixar transparecer mais uma noite em claro que passei, me torturando pensando o que não devia, esperado pelo dia em que vou acordar e me sentir confortável dentro desse corpo, conseguir gostar de mim de novo, me perdoar, me amar. Porque se nem eu consigo fazer isso, quem conseguirá?

22.4.16

Pode ficar se quiser




Querer você só pra mim é egoísta. Querer trancar você dentro de mim, sem deixar espaço pra você ser de mais ninguém é honesto, mas egoísta. Querer toda sua atenção, todos os olhares, os verbos, imperativos, mais-que-perfeitos e sobre tudo, futuros, é verdadeiro, mas muito egoísta.
Egoísta e mesquinho, porque uma vez que você era meu, e fez de si mesmo um lar pra me servir de abrigo, eu fechei a porta atrás de mim, preferí construir meu próprio mundo de cartas de baralho ao pé de uma janela.
Não precisou que todas as cartas caíssem de uma vez, uma só carta fez desmoronar toda estrutura fraca que era meu abrigo.
Fiz de ti uma ferida aberta exposta ao ácido. Fiz do tua dor não mais que duas linhas em meus textos. Fiz de ti a pessoa que mais me odiou nesses últimos anos.
Triste, pois eu que criei este Frankenstein que és, feito de pedaços do passado, do presente e do medo. Eu que te criei da forma mais bizarra e dolorosa possível. Fiz de ti uma colcha de retalhos, cacos colados aleatórios, sem beleza, sem forma, sem ordem... Uma bagunça.
E ainda assim tão egoísta que eu sou, te quis, sem te deixar respirar, sem te dar trégua, sem fechar a ferida, sem que, ao menos, tu pudesse se refazer. Te desfiz de novo, pendurei na sala novamente, incompleto, sem as peças do quebra cabeça, sem forma, sem verbo, sem futuro. Me fiz de abrigo, pequeno, apertado, desconfortável, você entrou com o receio de quem já escorregou em piso molhado, cada passinho de cada vez, até sentar-se no lugar mais próximo da porta, ficar perto da saída é mais confortável, eu entendo.
Mas saiba que dentro deste peito todos os espaços são seus, todas as paredes têm seu retrato, todo som tem tua voz, pode ficar e pendurar as chaves, e se precisar, a porta sempre estará aberta, para entrar e sair... Mas eu prefiro que fique.

17.4.16

Essa mala não te alça




Eu aceito mais essa bagagem, nessa altura do campeonato, aceitação é a palavra mais representativa. E eu vou levando como posso, como dá, entre uma lágrima e outra, a gente dá aquele sorrisinho de que está se conformando. Uma a mais, uma a menos não faz tanta diferença agora, nessa eu nem me dei ao trabalho em colocar "frágil, essa é uma daquelas memórias que preferimos que sejam extraviadas mesmo, que cheguem no destino aos pedaços, se possível. Hoje doeu. Doeu menos que ontem, talvez amanha doa um pouco menos. E assim são feito os cálculos de cada dia, contagem regressiva para o dia em que a dor será apenas aquela bagagem de mão que a gente carrega de vez em quando.

9.3.16

Mais uma constatação




A pasta estava pronta, todos os anos cuidadosamente separados em meses, mas eu nunca tive coragem de excluir as fotos. Nem de jogar fora a 3x4 na minha carteira, nem de mudar o nome no meu celular, nem de me desfazer daquele livrinho com dedicatória. Eu tinha me acomodado a ter você, ao conforto da sua voz, ao encaixe do nosso corpo, era mais do que me desfazer de coisinhas pequenas, era excluir todos os sorrisos nos lugares mais legais que já fui, jogar fora a lembrança que eu tinha de que eu não sou daqui, cada vez que eu abria a carteira e via seu rosto quando ia comprar mais um tomate transgênico, tirar aquele apelido no aumentativo que me fazia rir toda vez que você ligava era mudar você dentro de mim, me desfazer da verdade mais bonita que eu vivi e que estava lá naquela primeira página daquele livrinho, era mais do que eu podia suportar.
Era apagar os anos mais floridos,  viver sem ter sorrido, sem ter motivo pra voltar, sem ter graça, nem verdade, porque era isso que você representava pra mim, era mais do que eu esperava que você fosse, era mais uma das descobertas que fiz sobre mim mesma, a descoberta de que preciso de você mais do que supunha.

27.2.16

Eu odeio você te amo



Eu quero te dar um tapa na cara por você ser tão ridículo, também quero colocar sua cabeça no meu peito e fazer cafuné até você dormir. Eu tenho uma vontade imensa de te dar um soco no estômago, ao mesmo tempo que tenho vontade de tirar tua roupa. Meu pé grita para chutar seu saco, e minha boca grita pela sua. Eu te odeio como te amo. Quero que você suma da minha vida e pegue um avião pra vir me ver. Quero te largar da mesma forma que largaria tudo aqui por você. Quero esquecer você como quem esquece de respirar.


 Eu te amo e dane-se!  Porra! Que merda!

25.2.16

Dias infernais




Os dias terríveis existem sim! Existem porque há em nós uma natureza caótica, causadora da desordem. E principalmente em um coração pesado de dores e mágoas, bater de frente com os acontecimentos do destino causa uma reação que gera mais dor nos que estão ao redor do que em si.
Esses temores do coração enfraquecem pouco a pouco a alma, são como deixar a carne exposta ao ácido. Então pelos dedos escoam as palavras, e de que forma escoaria o coração se não pelos olhos? E aí, a alma prende-se aos medos, mesmo sendo ela livre, dividide-se entre o voar e o enraizar, vivendo um ciclo vicioso masoquista de ferir-se lentamente. E é nesses passos trôpegos, que eu entendo muito pouco, amo muito mais, e sigo.





22.2.16

Finda o horário de verão

Meu dia começou assim, sendo dia 21 às 00 hrs, mas aí teve que voltar para o dia 20 e esperar mais uma hora para ser dia 21 de novo, confuso.
Depois que ele conseguiu ser dia 21, ele deixou pra trás todo o verão e começou como um outono.
Até ontem eu caçava borboletas no sol, mas hoje me limitei a ler um livro enquanto chovia lá fora.

Tudo isso é transição e confusão, tudo isso resume quem sou.
Toda confusão em efusão dentro deste corpo de 59 kg se traduz em transição.

Eu escrevi essa palavra várias vezes pra ver se fazia algum sentido pra mim "transição", pensei que quem está em transição um dia para em algum lugar, para de transitar né? O verão passou para outono, o outono vai ser outono por um bom tempo antes que seja inverno.

Mas e eu?

Eu ainda não estou no destino final, ainda não sou definitiva. E que cada estação vai corrigindo a anterior, como uma nova edição de um livro antigo, será que um dia há de haver uma edição definitiva? Sem consertos, imutável, intransicionável?

Sei lá!

Só não quero continuar sendo pedaços de edições anteriores, mudando de trem com bilhetes de viagens anteriores nos bolsos. Pulando para o outono de chapéu de praia...
Cada transição por vez, até que a porta se feche, até que a alma sare


Cada corte sendo fechado, leva tempo, cuidado e repouso, mas é melhor assim para não correr o risco de abrir novamente. Eu gosto das cicatrizes da alma, me fazem lembrar quem fui, quem sou, quem quero ser, me fazem lembrar que cada 21 de outono a maior transição foi de mim para mim mesma.

16.2.16

Café e tempestades




Tudo é tão novo, tão vivo, tão intenso. Como se cada dia fosse a primeira vez, cada sentimento vem como um turbilhão de redemoinhos em uma pequena xícara de café com a qual começo o dia, tentando engolir os sete mares de uma vez.

É tudo igual, tudo se repete milimetricamente na mesma posição que no dia anterior. No lado esquerdo da caixa torácica. É ali que ele bate na porta, é ali, naquelas primeiras horas da manhã que eu deixo ele entrar, tomamos alguns redemoinhos de café e, como sempre, ele gruda na minha alma como tatuagem. Aquele tempo verbal que passou, mas que continua conjugando meus verbos.

Novo, é o sentimento antigo que fere a alma não acostumada, novo é o derramar-se pela alma ferida todos os dias de forma similar ao dia anterior, novo é o velho arrependimento de uma felicidade perturbada pela velha alma ferida. Novo é o sentimento de querer abandonar esse velho coração tempestuoso, por uma xícara de café e brisa, só assim quando a maré baixar, darei o primeiro gole.


4.2.16

A borra do meu café



Assim que terminei de tomar o café perguntei "Quem sabe ler a borra?", aí o professor respondeu "Eu sei Bri, dá aqui que eu vou ler seu futuro". Nessa hora, todos que estavam na sala prestaram atenção.

- Ih Bri, olha parece que tem alguma coisa aqui que tá fugindo! - ele falou e mostrou a xícara pra nós.
- O que isso significa? - perguntei descrente.
- Ó, prestenção, você vai gostar de alguém, e esse alguém não vai gostar de você... - fez uma pausa - Vixi, você vai correr tanto atras dessa pessoa, ela não vai dar muita bola pra você não em...
- Tem certeza que é sobre o futuro Roger?- perguntei.
- Ué, tenho, tá aqui o desenho - ele mostrou a xícara de novo.
- Isso tá parecendo meu presente... 

Conclusão: a borra tá atrasada.

22.1.16

O dia que eu estava com medo




Aí, eu perdi o ônibus e estava sozinha às 22:00 hrs numa Universidade que fica numa rodovia onde tudo o que se vê é soja de um lado e milho do outro, a 14 Km da cidade, o próximo ônibus sairia às 22:15, e a Universidade estava deserta, não tinha pessoas e não havia carros no estacionamento! Tudo escuro. Eu estava com medo, primeiro que se acontecesse alguma coisa nem adiantava eu gritar, ninguém ia ouvir, e depois nem correr eu poderia porque só tem soja e milho nos arredores. Medo me definia naquele momento. Eu andava olhando pra trás todo o tempo, apreensiva, e com um estilete na cintura. Aí recebi uma mensagem no whats "me liga". E eu liguei.
Foi ouvir aquela voz que minha insegurança se desfez, sim eu estava com medo, minha voz estava trêmula, ma a voz do outro lado da linha me deixou confortável e confiante para andar por mais três quadras  para chegar no ponto de ônibus.
Eu sei que se acontecesse algo, ele não poderia fazer nada por mim, já que estava a mais de 3 mil km de distância, mas de uma forma mágica, era como se eu estivesse em segurança, como se eu estivesse naquela rede azul sob os olhos dele, eu sabia que nada de mal poderia me acontecer quando ele estava por perto.
É assim, tem pessoas que não precisam estar perto para se fazerem presentes, de longe dá para sentir o conforto da companhia,  e esta segurança ultrapassa os limites dos corpos, chega até nós como um sentimento bom, de um coração para outro coração, de uma alma pra outra alma.

E naquele dia eu cheguei em casa em paz, mas pensando bem, desde que eu pus aquele telefone no ouvido eu já estava em casa...

19.1.16

Deixa eu voltar



Se eu conseguisse viajar de volta eu não faria as malas, não compraria mais um biquíni, não procuraria os pontos turísticos, não pesquisaria hotel, não alugaria carro, não planejaria passeios. Eu iria com o vestido que estou agora, iria descalça, com esse cabelo preso e com esse rosto vermelho e inchado, iria com esse desespero e a certeza de encontrá-la, só para avisar que a estrada será escura demais, dolorosa demais, sofrida demais. Arriscar toda felicidade não vale  a pena, que o amor um dia cansa, que sorriso também engana. Queria dizer pra ela que recomeçar dá medo, que achar o caminho de volta é demorado, e que esse caminho é longo, que o melhor a se fazer é mudar a rota, observar as placas de advertência, desviar dos buracos, da lama, o instinto pode ser selvagem e irracional. Ela precisaria saber que nem toda luz é sol, que nem todo afeto é carinho, e que o coração engana, que a honestidade dói, e que a mentira dói ainda mais, ela iria perceber quem é que ama e quem se importa. Se eu apenas pudesse avisá-la...

9.1.16

Teu sono



Nesses ultimo dias, acho que você percebeu que eu demoro te olhando. Eu gosto de ver o formato do teu rosto quando você sorri. Gosto de ver como seus olhos se abrem quando você está gargalhando por um susto que tomei ou por uma queda que levei. Gosto de ver como você coça  a cabeça quando está impaciente, como seu sorriso fica raso quando você é o alvo das piadas. Eu gosto de abrir os olhos de vez em quando e ver se você está com os seus fechados, e muitas vezes eu nem fecho os meus de volta, eu gosto de ficar te olhando dormir, vendo como teu peito sobe e desce a cada puxada de ar muitas vezes descompassadas. Gosto de te olhar por precaução, pra saber se você está vivo, ou se você não vai sair de perto por causa do calor, do espaço, do tempo ou as dores.
Velo teu sono e perco o meu, prefiro sonhar acordada a dormir entre pesadelos.