"Quem tinha tempo para a poesia? Pois ela comprou um carrinho invisível e começou a catar palavrão" Rita Apoena

27.4.17

Narrativa



... depois do efeito percorrer meu corpo e bagunçar minha mente, lembro que consigo ver algumas luzes fora de foco, a sensação era de leveza e sinto meu corpo sendo puxado por outro antes que eu desabe. A garrafa ainda estava em minhas mãos, alguém me carrega lentamente, enquanto me pergunta coisas sem sentido. Ouço o som do estilhaço da garrafa que escorregou de minhas mãos. O que me parece bem apropriado, já que nesses últimos dias não tenho conseguido segurar mais nada na vida com firmeza mesmo... Ele soltou um palavrão, que serviu para me acordar daquela sonolência e quando abro os olhos vejo outros me olhando de volta, com aquele olhar de bronca, e percebo que estou segura mais uma vez e sorrio. Ele balança a cabeça e solta um "não tem jeito mesmo" e me sorri de volta. Meus sapatos estão sendo tirados e minha cabeça afunda no travesseiro. Eu estou consciente, sei disso porque mais uma vez sinto o medo de sempre...
- Não desligue a lâmpada, e não me deixe só.
- Não vou sair daqui... nunca. - ele disse.

Só que eu estava lá quando o avião dele partiu, acenando e tentando entender o que aconteceu nas ultimas semanas. Como um "Oi" pode se transformar tão rápido num "Adeus".

25.4.17

Brinda aqui comigo


Aos 20 anos eu pensei que hoje eu estaria casada, e que eu não viveria um dia de ressaca nunca mais.  Mas não foi bem assim, eu pensei que hoje eu seria essa pessoa, uma pessoa super exemplar.

Aos 23 anos eu pensei que hoje eu estaria preocupada com meu vestido de noiva, e que estaria dirigindo meu próprio carro com responsabilidade. Mas dia desses recebi uma multa de excesso de velocidade na rodovia, tava lá minha foto na moto. Ainda não me tornei a pessoa que queria ser naquela época.

Aos 25 anos eu pensei que hoje eu estaria cuidando do meu jardim na minha casa, porque eu estava tão ocupada com tanta coisa que deixei meu cacto morrer, mas hoje eu teria um belo jardim com horta e tudo. Não foi bem assim... Hoje não é nada disso que quero.

Eu adoro acordar com silêncio de ninguém por perto todos os dias, tomar o café quentinho junto com minhas plantas. A ressaca no dia seguinte me prova como a noite anterior foi divertida, e os vídeos não negam isso. O excesso de velocidade foi quando viajei de moto pela primeira vez, meus cactos não morrem mais, mas não tenho horta e nem cachorros, mas penso constantemente em pegar um gatinho, e passo meu tempo com o que me acelera os batimentos cardíacos, isso inclui pessoas.

Talvez hoje eu não queira ser a pessoa que eu quis ser.
Mas eu ainda não terminei, há algumas viagens para fazer e algumas multas a pagar.
Mas o que mais me traz paz é saber que eu nunca mais serei a pessoa que quis ser!
A isso, um brinde!


11.4.17

Segue o fluxo

Não há nada mais emocionante do que saber que você está onde queria.
Tem muita coisa explodindo aqui fora, muita coisa prestes a dar errado.
Mas com o coração em paz a gente nem percebe o carnaval lá fora.
Estiquei os prazos, pedi prorrogações,  mas ao invés de sentar na frente de um computador eu viajei.
As prioridades se tornam outras com o tempo.
Não é aquele carro, nem aquele emprego, nem aquele relacionamento.
Antes o estável era meu objetivo, e hoje eu vejo que não quero nada estável demais, quero o chão balançando sob meus pés feito balsa.
Aquele frio no estômago e até aquela dorzinha da gastrite nervosa tem me agradado.
Quero algo mutável, que eu possa modelar ao meu gosto.
Hoje eu tenho mais certeza do que quero, e do que não quero, sem ninguém me dizendo o que fazer, como fazer, o que querer.
Depois que eu parei de querer agradar e impressionar, me senti mais livre para fazer o que me agrada, e ser quem eu sou, sem limitações impostas.

Tem muita coisa explodindo , muita coisa prestes a dar errado.
Mas com o coração em paz a gente nem percebe a guerra lá fora...