"Quem tinha tempo para a poesia? Pois ela comprou um carrinho invisível e começou a catar palavrão" Rita Apoena

1.2.19

Querido Jack III

Querido Jack


    Hoje de manhã eu estava refletindo o seguinte, quando eu era uma criança, eu e minha irmã brincávamos em baixo da cama. Eu adorava, costumava brincar até sozinha lá em baixo. Entrava ali e imaginava um mundo de coisas. Várias vezes aquele lugar foi o Universo inteiro, cheio de poeira  que me faziam espirrar por horas. Tinha dois buracos negros, do lado esquerdo eu entrava, do lado direito eu saía.
    Eram só eu e minha nave, controlava todos os botões, desviava dos asteroides que passavam raspando na nossa asa (minha aeronave tinha uma asa igual de avião), conhecia planetas e várias outras coisas absurdas que só existiam no meu universo, como o santuário das borboletas, que era um lugar no universo, que eu adorava, onde tinham borboletas estrelares e coloridas que orbitavam um enorme girassol.
    Mas, lá embaixo,  não tinha só universos, era também meu esconderijo no pique-esconde, era meu esconderijo no polícia e ladrão, como também era a própria prisão. Era também debaixo da cama que se escondiam os gnomos que roubavam meus pares de meias, e sapatos, ou até aquele brinco que eu sempre perdia. Consegue entender o quando "debaixo da cama" é importante para uma criança?
    Só que agora não existe mais isso! Os pais compram cama box pra seus filhos, e aí não tem mais universo, nem esconderijo, nem prisão e  nem pares de meias perdidas. Que tipo de infância essas crianças vão ter Jack? Muito sem graça.
   Por isso queria te dizer, compre uma cama normal para seu filho, ele precisa passar por todas as experiências de vida de uma criança, e o monstro que mora lá em baixo, é apenas mais um detalhe.

Até breve Jack.
Com amor, Brisa.

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